Startups também erram

Startups não possuem uma moral infalível e superior ao resto do mundo, elas são empresas, buscam o lucro e erram.

Joao Vitor Chaves Silva
Empreenda Junto

--

Esse é um artigo menos técnico do que normalmente costumamos publicar aqui no Empreenda Junto. Na verdade, ele é de certa forma um artigo de reflexão e análise, que vale muito a pena ser lido por empreendedores e entusiastas.

Recentemente tenho visto cada vez mais pessoas defendendo as startups cegamente, dizendo que as leis precisam ser revistas e adaptadas para uma nova realidade, etc, etc, etc.

Sim, o mundo precisa se adaptar

Vamos começar a nossa reflexão com um ponto em comum: sim, as leis precisam ser revistas e adaptadas para acompanhar o ritmo de desenvolvimento da tecnologia atual.

No Brasil e na maioria dos países, grande parte do código legal tem algumas décadas de idade, algo que faz com que estado e startups entrem em conflito com uma frequência cada vez maior.

Leis retrógradas podem e de certa forma já atrasam o avanço da tecnologia e a melhora da qualidade de vida das pessoas.

O protecionismo criado através do lobby de grandes empresas atrapalha a competição e por consequência, dificulta a chegada de soluções melhores e mais baratas para a sociedade como um todo.

Porém, isso não significa que as startups estejam sempre com a razão, ou que elas possuem uma moral superior.

Startups também erram

Um efeito colateral que poucas pessoas observam quando falamos sobre as leis atuais e as startups, é que o desequilíbrio entre o número de vezes que cada lado dessa briga (estados e startups) está errado, faz parecer com que um deles esteja sempre certo.

É criado um viés de confirmação que por algum motivo faz com que as pessoas defendam as startups cegamente, e muitas vezes, deixem de refletir se aquilo realmente é a melhor opção.

O perigo mora em começar a defender algo cegamente, sem a devida reflexão, e isso pode fazer com que você, enquanto empreendedor, se torne cego para os seus erros.

Os perigos de achar que está sempre certo

Um dos maiores riscos criados pela crença de que as startups e empresas de tecnologia estão sempre certas e o estado errado, é a influência que isso causa nos próprios empreendedores na hora de refletirem sobre suas próprias ações.

O risco aí é simples: acreditar estar sempre certo.

Quando você passa a acreditar que está sempre correto, e nunca erra, você se torna cego, cria-se uma espécie de viseira, que te impede de observar os próprios erros e corrigir as coisa a tempo.

O caso Uber

Eu sou um grande usuário do Uber e do Cabify e como uma pessoa com grande interesse na área de user experience e desenvolvimento de produtos, gosto de conversar com os motoristas e saber o que eles andam achando das plataformas.

E a cada vez mais, a diferença entre a satisfação dos motoristas do Uber e do Cabify se mostra em um patamar diferente.

A cada dia mais, os motoristas do Uber andam insatisfeitos e nem sequer estou falando de direitos trabalhistas, mas de coisas básicas, como um bom suporte da empresa, melhor divisão dos resultados e mesmo uma maior transparência nos critérios de exclusão da plataforma.

Com motoristas insatisfeitos, a qualidade do serviço prestado caí, no Rio de Janeiro por exemplo, eu nunca mais andei de Uber depois de uma péssima experiência no ano passado, lá é só Cabify.

Quando comento dessas reclamações com amigos ouço eles respondendo “Se o motorista está insatisfeito com a plataforma, ele quem saia. “, e apesar de concordar com isso, existe um problema básico em resumir sua resposta a isso: ignorar os erros da plataforma.

Se você faz isso com o Uber, existem grandes chances de que você faça com o seu negócio.

O caso Apple

A Apple pode não ser mais uma startup, porém, ela também dá vários exemplos de como empresas de tecnologia podem ser o lado errado da história.

A empresa da maçã tem atuado com um lobby gigantesco junto a políticos para manter seu monopólio sobre o reparo de seus equipamentos.

Nos Estados Unidos em vários estados está sendo avaliada a lei do “Direito ao reparo” que basicamente faz com que as empresas fabricantes de diversos tipos de produto, precisem liberar o acesso aos manuais de diagnostico e reparo de seus aparelhos para qualquer pessoa.

A Apple então, entrou na jogada para tentar impedir que ela fosse aprovada no estado de Nebraska, telefonando e contatando as pessoas responsáveis pela avaliação do projeto e usando vários argumentos que beiram o ridículo, para impedir que a lei seja aprovada, inclusive afirmando de que o projeto tornaria o estado um paraíso para hackers.

Em uma das conversas ela chegou a falar algo tão simples como: retire a parte sobre celulares da lista, e nos “vamos embora. ”

Numa clara demonstração de que o interesse da empresa não é evitar que o estado se torne um paraíso hacker, aliás a tal cultura hacker é algo muito celebrado pela gigante de Cupertino, mas sim, garantir o seu monopólio e os seus lucros

Conclusões

No final do dia, startups ainda são criadas e administradas por pessoas, o que as torna suscetíveis a erros e por isso é importante que as pessoas sempre reflitam antes de tomarem lado em uma disputa entre startups e seja lá quem for.

Da mesma forma que leis e governos não são indicativos de ética e moral, as empresas também não, não espere que as empresas sempre defendam os seus interesses enquanto consumidor, via de regra elas o farão, somente enquanto aquilo for lucrativo, da mesma forma que políticos só irão atuar para te defender, quando aquilo render votos.

Cabe a cada um de nós, sempre avaliar a situação, buscando entender os lados envolvidos, as motivações e as consequências de cada posicionamento, é preciso refletir e considerar e acima de tudo, nunca apoiar um lado cegamente.

--

--

Founder @empreendajunto| Empreendedor apaixonado por inovação. | COO/Partner Gestão 4.0